ESCUTAS REMOTAS

 

Podemos classificar como sendo escutas remotas, aqueles equipamentos empregados na captação de um áudio ambiente, sem que haja, contudo, a necessidade de instalá-lo, previamente, dentro do ambiente a ser monitorado, tal como deve ser feito com um gravador ou transmissor RF.

Como se pode perceber da descrição acima, tratam-se de equipamentos com alto poder ofensivo, tendo em vista que o agressor nunca precisa ter tido acesso ao ambiente alvo para se copiar o áudio produzido lá dentro. Como conseqüência, estes equipamentos não são comumente detectáveis durante a execução de varreduras. Muito embora eles possuam lá suas limitações (como qualquer outro equipamento), existem alguns procedimentos que podem ser adotados para tentar diminuir, e mesmo neutralizar, a ação deste tipo de tecnologias.

Os equipamentos de escutas remotas, de acordo com suas características, podem ser sub divididos em Microfones Direcionais, Microfones Parabólicos, Estetoscópios Eletrônicos, Amplificadores de Audição e Escutas Lasers. Cada um deles contando com aplicações, vantagens e limitações próprias, conforme se pode ver adiante.

 

MICROFONES DIRECIONAIS

 

 

 

 

 

 

Os microfones direcionais são equipamentos compactos e de baixo peso, para poderem ser manuseados com uma única mão. Geralmente são construídos em peça única e são compostos por uma empunhadura e, na extremidade, por um microfone alongado revestido com espuma que protegerá a unidade contra ruídos provocados pelo vento e eventuais quedas.

Os microfones direcionais são empregados na captação de sons à distância, sendo que os melhores equipamentos do tipo permitem a captação clara de uma conversação entre duas pessoas conversando em um tom (volume) normal a até cerca de 30 metros de distância. Tal como acontece no caso dos microfones parabólicos, não podem haver obstruções físicas (paredes, janelas e etc) entre o ponto onde está posicionado o equipamento e o local onde transcorre a conversação alvo do monitoramento.

Para utilizar o equipamento, o operador deve apontar o microfone para o ponto de monitoramento, lembrando que deve haver inexistência de barreiras físicas, colocar os fones de ouvidos, e ligar a unidade. São muito simples de serem usados. E como são geralmente compactos, podem ser facilmente utilizados com dissimulação e discrição.

Os microfones direcionais apresentam um poder de captação de áudio inferior quando comparado com os microfones parabólicos, que costumam ser maiores, mais pesados e mais caros. Contudo, ao contrário dos microfones parabólicos, os direcionais podem ser empregados dentro de ambientes fechados. O uso típico destes equipamentos inclui audições dentro de restaurantes, bares, galpões e outros locais pequenos e fechados.

Contudo, há de se considerar as condições em volta do local a ser monitorado, a fim de se obter o melhor desempenho do equipamento. Quanto mais silencioso o espaço entre o equipamento e o ponto a ser monitorado, melhor será a qualidade do áudio. Isto vale também para o nível de ruídos verificado em volta do ponto de monitoramento. Quanto mais silencioso o ambiente que o alvo estiver inserido, mais claro e limpo será o áudio captado.

Alguns equipamentos trazem incorporados filtros eliminadores de ruídos, que podem ser ativados sempre que houver muitos ruídos indesejáveis presentes no local do ambiente onde se está monitorando. Geralmente estes equipamentos são fornecidos acompanhados de fones de ouvidos, e também freqüentemente, possuem saída para gravações. Alguns modelos trazem ainda suporte para acoplagem de binóculos. Permitindo assim o emprego de tecnologias que permitirão simultaneamente o incremento da audição e da visão.

 

MICROFONES PARABÓLICOS

Como já foi dito, os microfones parabólicos são maiores, mais pesados e mais caros que os microfones direcionais. Contudo, eles são também mais potentes que seus similares direcionais, fazendo com que captem todo o áudio que estiverem na direção da parábola.  E em decorrência deste fato, estes equipamentos são contra indicados para locais fechados, pois o burburinho presente no ambiente poderia se sobrepor ao áudio desejado. Logo, seu emprego dentro de um shopping, por exemplo, seria vertido em uma confusa escuta de várias pessoas falando ao mesmo tempo. Alguns equipamentos podem amplificar o som original em até 75 vezes!

Assim como os microfones direcionais, os parabólicos devem ser apontados para o ponto alvo do monitoramento, e não pode haver obstruções físicas entre o ponto de captação e o equipamento. O alcance máximo para uma captação de conversações entre duas pessoas conversando em níveis (volume) normais, considerando-se os melhores microfones parabólicos, seria de cerca de cem metros de distância.

Os microfones parabólicos costumam ser encontrados nas bordas dos campos de futebol nas mãos dos repórteres de campo que cobrem eventos esportivos. São equipamentos que incorporam uma empunhadura, e na sua extremidade encontra-se uma parábola que pode medir até 50 cm de diâmetro. No interior desta parábola localiza-se um microfone, que dependendo do modelo é voltado para o centro da própria parábola ou apontado para frente.

As condições ambientais desejáveis são as mesmas aplicadas no caso dos microfones direcionais, ou seja, o mais silencioso possível ao redor do alvo para onde se está apontado. O leitor mais atento poderá pensar: “como o silêncio pode ser desejável e possível, em um campo de futebol, durante uma partida?”. Respondo: o som da torcida está nas adjacências e relativamente distante, não tendo origem no exato ponto para onde o equipamento está apontado. Contudo, os microfones parabólicos da beira do campo captam sim o áudio das arquibancadas, porém estes ruídos indesejáveis são suprimidos pelos filtros eliminadores de ruídos destes equipamentos. Característica esta que pode ser encontrada junto aos melhores equipamentos parabólicos.

O uso típico destes equipamentos inclui audições em locais abertos, a partir de um local fechado. Esta utilização a partir de locais fechados se faz necessária tendo em vista que o equipamento apresenta dificuldades em passar desapercebido por outras pessoas que estejam passando pelo local, em função das suas dimensões. Geralmente são utilizados a partir de uma sacada, varanda ou interior de veículos e são apontados para o outro lado da rua ou final do quarteirão.

Entre os acessórios mais comuns, destaque para saída e cabo de gravação, tripé, visor monocular embutido com poder de ampliação de até 10x da imagem, gravador digital para os últimos segundos ouvidos, filtro eliminador de ruídos indesejáveis, supressor de ruídos altos (protege o usuário contra sons altos tais como gritos e disparos de armas de fogo), além dos indispensáveis fones de ouvidos.

 

ESTETOSCÓPIOS ELETRÔNICOS

                                          

Como o leitor deve ter suspeitado, estes equipamentos são uma variação dos estetoscópios utilizados pelo pessoal da área médica. Compõem-se, assim como os estetoscópios comuns, de uma sonda captadora de sons, e de fones de ouvidos. A grande diferença entre a ferramenta médica e os nossos estetoscópios eletrônicos é que entre os fones de ouvidos e a sonda, há uma pequena caixa que amplifica eletronicamente o sinal captado pela sonda.

Estetoscópios eletrônicos são empregados para a captação de sons através de alguma barreira física como paredes e portas de sofres. Extremamente versáteis estes equipamentos encontram uma ampla gama de atualizações para o pessoal da nossa área. Nas equipes de E.O.D. (explosivos) pode ser empregado para escuta de volumes suspeitos, como caixas e bolsas esquecidas. Para o pessoal das equipes de Operações Especiais pode ser empregado para se ouvir através das paredes de uma casa, antes de se efetuar um adentramento e assim, deduzir o número de pessoa no interior do local, o que estão fazendo, e etc. Para o pessoal das investigações, pode ser empregado para ouvir conversações sigilosas que ocorram dentro de uma casa, de um cômodo em particular, ou através das paredes de um quarto de hotel, por exemplo.

No que se refere às atividades de investigações, o emprego típico destes equipamentos consiste na audição, através de paredes, de conversações restritas. Contudo, quanto mais consistente e densa a parede, mais difícil será a audição. Outro fator que pode atrapalhar as audições diz respeito ao volume dos sons presentes de um lado e do outro desta parede.

Para entender esta dificuldade adicional representada pelos sons presentes no ambiente (interno ou externo ao local alvo) devemos lembrar que os sons propagam-se através de ondas. Estas ondas, por sua vez, propagam-se até se diluírem nos casos de amplos espaços, ou são refletidas de volta quando encontram alguma barreira física pelo local por onde se propagam.

Equipamentos como os estetoscópios eletrônicos e as escutas lasers captam sons através de barreiras físicas. E esta captação acontece justamente no instante em que estas ondas colidem com as paredes, portas, janelas e etc do ambiente monitorado. Logo, se houver a presença de outros sons ambientes, dentro ou fora do local que se deseja o monitoramento, eles serão captados de maneira sobreposta ao áudio alvo do monitoramento. Por isto, quanto mais silencioso for o ambiente, de um lado e do outro da parede através da qual deseja-se fazer a audição, mais claro e livre de ruídos será o áudio captado.

Outro fator que pode influir na qualidade do áudio captado refere-se ao volume das conversações travadas no outro lado da parede monitorada. Se as pessoas conversarem em volume mais alto, melhor será a qualidade do áudio captado. Por outro lado, se as pessoas no interior do ambiente monitorado conversarem baixinho, mesmos os melhores equipamentos terão dificuldade em reproduzir o áudio alvo do monitoramento.

A utilização destes equipamentos, a exemplo dos outros descritos neste capítulo, é muito simples. Basta encostar a sonda captadora de áudio no obstáculo físico através do qual deseja-se monitorar, colocar os fones de ouvidos e ligar o equipamento. Os acessórios e recursos mais comuns dos estetoscópios eletrônicos são filtros eliminadores de ruídos indesejáveis, saída para gravações, ajuste do nível do volume nos fones de ouvidos, e, claro, os fones de ouvidos.

Um dos modelos mais populares e baratos do mercado chama-se microfone de concreto, devido ao fato de ser empregado por bombeiros hidráulicos dos países desenvolvidos que buscam encontrar sinais de vazamento em encanações através de paredes através do seu uso.

 

AMPLIFICADORES DE AUDIÇÃO

       

Equipamentos amplificadores de audição é a denominação dada para os equipamentos de uso auricular que amplificam os sons ambientes. Todos os modelos disponíveis se parecem, externamente, como qualquer outro fone de ouvido supressor de ruídos altos. Tais como aqueles encontrados em stands de tiros ou utilizados pelos funcionários das pistas de aeroportos.

A diferença é que eles amplificam o ruído ambiente, ao invés de suprimi-los. Na realidade, alguns destes equipamentos possuem dupla função, isto é, eles amplificam ruídos baixos, e suprimem ruídos altos. Esta função dupla tem por objetivo proteger o sistema auditivo do usuário no caso de ocorrência de surgirem inesperados ruídos altos, como gritos, estampidos e coisas do tipo.

Para se utilizar o equipamento, basta colocar os fones no ouvido e ligar o dispositivo. Ele automaticamente irá amplificar os ruídos presentes no ambiente. Alguns equipamentos apresentam um bom nível de amplificação dos sons ambientes, com potência de até 70 decibéis.

O emprego típico deste equipamento refere-se à audição de conversações nos casos em que hajam obstáculos físicos parciais entre o ponto em que o equipamento está sendo utilizado e o ponto da conversa alvo do monitoramento. Desta forma, são muito úteis para se ouvir as conversações travadas na sala ao lado que está com a porta aberta, ou na sala ao lado que possui parede de meia altura como divisão.

Entretanto, a melhor performance do equipamento é verificada nos casos em que não existem barreiras físicas, e também nos casos onde haja um mínimo de sons ambientes presentes. Pois estes últimos serão captados de maneira sobreposta ao áudio alvo do monitoramento.

Entre os acessórios mais comuns destaque para alguns modelos que são fornecidos acompanhados de tiras de fixação, com velcro, para serem utilizadas, durante uma corrida ou caminhada ao ar livre. Dado o objetivo do seu uso, não possuem saída para gravações.

 

ESCUTAS LASERS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dentre os equipamentos de escuta remota, as escutas laser representam o que há de mais moderno, inovador e caro disponível no mercado internacional. E a história do desenvolvimento desta tecnologia é um fato curioso que merece ser contada.

O emprego de feixes de laser para utilização em atividades de escutas a distância deu-se de uma forma inusitada e quase que casual. Na segunda metade dos anos 90, uma indústria britânica que desenvolvia tecnologias para localização de impressões latentes em locais de crimes (impressões digitais recentes, frescas), trabalhava em cima de um projeto que consistia no emprego de lasers para esta finalidade (localização de impressões latentes).

No decorrer da fase de experimentações, a equipe de engenheiros e técnicos envolvidos no projeto, desconfiou que o laser, ao incidir sobre uma superfície envidraçada, poderia funcionar como uma onda portadora do áudio ambiente que era refletido por esta superfície. A questão era como demodular este eventual áudio presente no feixe de laser. Deu-se então, início a um novo projeto de desenvolvimento de tecnologia que culminou com o que ficou conhecido como escuta a laser.

Que, aliás, de laser não tem nada. Na realidade o comprimento de onda envolvido tanto no processo de localização de impressões latentes quanto na captação de áudio em superfícies envidraçadas, remete-nos à região do Infra Vermelho no espectro eletromagnético. Todavia, sabe-se lá por que misteriosos desígnios do destino, tanto uma tecnologia quanto outra ficaram conhecidas como laser, e não como infra vermelho. De qualquer forma, o equipamento ora abordado é exatamente o mesmo que em qualquer lugar do Brasil é chamado de escuta laser. 

As escutas laser (ou melhor, de infra vermelho) são equipamentos que apresentam um grande poder ofensivo, pois alguns modelos podem ser empregados para a  captação de sons em distâncias de mais de mil metros, a partir do ponto onde a unidade encontra-se localizada. A utilização do equipamento é um pouco complexa, e apresenta fortes limitações no seu emprego. Contudo, se as condições necessárias forem viabilizadas, confirma-se seu alto potencial ofensivo. Mas, se uma única condição não for atendida, todo seu potencial ofensivo vai por água abaixo.

As condições necessárias para seu efetivo emprego são estas que passo a descrever. Em primeiro lugar, não podem haver barreiras físicas presentes entre o equipamento e a superfície envidraçada alvo do monitoramento (uma janela, por exemplo). Pois o feixe de laser (ou melhor, a onda de infra vermelho) originado pelo equipamento, não consegue transpor barreiras físicas.

Em segundo lugar, o feixe de laser (onda de infra vermelho) precisa incidir sobre a superfície alvo do monitoramento em um exato ângulo de 90º. Se esta condição não for atendida, o laser (infra vermelho) não retornará para o equipamento, conforme pode-se observar nas figuras adiante.

 

                          

Janela de um prédio alvo, num ângulo de 90º em relação ao feixe. O feixe de laser toca a superfície e volta para o ponto de origem. Escuta laser emissora do feixe e unidade de recepção.

 

                         
                   

Janela de um prédio alvo, fora do ângulo de 90º em relação ao feixe. O feixe do laser toca a superfície e é refletido para um ponto diferente da origem. Escuta Laser emissora do feixe e unidade de recepção.

 

É física e matemática aplicada neste caso. Se não houver a incidência exata do ângulo de 90º em relação ao feixe emitido, o sinal é refletido para outro ponto. Para melhor compreensão, peque uma lanterna de pilhas, ligue-a e aponte para um espelho. Se a lanterna não for posicionada de forma que o feixe de luz incida a exatos 90º (na vertical e na horizontal) o feixe de luz não será refletido de volta sobre a lanterna, mas para um outro ponto sem interesse. O mesmo acontecerá com esta escuta a laser.

O terceiro ponto fraco sobre a utilização das escutas a laser, refere-se à eventual presença de sujeira no lado externo da janela alvo. A presença de sujeira será demodulada como chiados pela unidade demoduladora do sinal. E quanto mais sujeira presente no lado externo da superfície envidraçada, maior será a quantidade de ruídos presentes no áudio captado.

Outros fatores que podem influenciar de maneira negativa o desempenho de sinal é a presença de chuva, ou a utilização interna ao ambiente de cortinas e persianas, que tenderão a fazer com que as ondas sonoras no ambiente se diluam ou sejam refletidas de volta para o interior do ambiente ao invés de propagarem em direção às janelas. Quanto mais intensa a chuva, ou mais espessa for a cortina ou persiana, menos claro e livre de ruídos será o áudio captado. Lembre-se, contudo, que o equipamento funciona apenas em superfícies envidraçadas.

Um kit de escuta a laser (infra vermelho) é geralmente composto por três partes distintas. A primeira é uma unidade geradora e transmissora do sinal, que é montada e posicionada sobre um tripé. A segunda parte é uma unidade receptora deste sinal, e a terceira parte envolvida é uma unidade de filtragem, amplificação e gravação do áudio capturado.

O princípio da operação é muito simples e ocorre através do envio de um facho de infra vermelho (também chamado de IR, do inglês Infra Red) para a janela do ambiente alvo. Este facho, ao retornar modulado pela vibração do vidro da janela alvo, é capturado pela unidade receptora e convertido em sinais eletrônicos que são filtrados, amplificados e gravados.

As escutas lasers mais simples disponíveis no mercado, não são comercializadas no Brasil por menos do que R$ 70 mil.