ASPECTOS TÉCNICOS DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
As informações abordadas neste artigo são especialmente úteis para o pessoal que irá atuar na execução de varreduras telefônicas. Atualmente pode ser encontrada uma ampla gama de equipamentos para emprego em atividades de interceptação do fluxo de comunicação telefônicas. A sofisticação tecnológica destes equipamentos varia entre extremamente simples (como alguns gravadores telefônicos que podem ser encontrados até mesmo junto a vendedores ambulantes) a extremamente complexo (como as caríssimas valises para rastreamento e monitoramento de telefônica móvel celular). Neste artigo iremos nos ater às técnicas para uso na interceptação de telefonia fixa. Mesmo neste caso restrito, uma ampla gama de equipamentos também está disponível, tal como gravadores, transmissores RF, interceptadores de faxes, as temíveis escutas do tipo infinita e decodificadores de tons DTMF entre outros. Cada um contando com características, aplicações, vantagens e desvantagens específicas. É importante ainda, frisar que os equipamentos modernos para interceptação e monitoramento do fluxo de comunicações telefônicas, ao contrário do que acontecia no passado, quando bem instalados, já não geram mais qualquer sinal estranho junto à linha telefônica. Isto quer dizer que os antes tão comuns clicks de acionamento, ruídos estranhos na linha, chiados e interferência de toda ordem, não são uma característica presente nos modernos equipamentos desta natureza. Salvo nos casos de emprego de equipamentos de baixa qualidade.
ASPECTOS TÉCNICOS Independente do tipo do equipamento, ele terá, invariavelmente, que ser instalado a partir de uma conexão física (ou pelos menos por indução) à linha telefônica. Mesmo que uma extensão clandestina seja instalada na linha alvo da interceptação, ela deverá estar conectada fisicamente ao par telefônico.
O PAR TELEFÔNICO Um conceito muito importante agora é o do Par Telefônico. No Brasil encontramos freqüentemente dois tipos de sistemas. O primeiro deles, também chamado de padrão americano (com conectores RJ11) e o brasileiro (com conectores de 4 pinos, refere-se àquelas antigas tomadas analógicas com os pinos dispostos de modo disforme entre sí). Cada um destes sistemas é composto de conectores específicos, e de uma quantidade de fios telefônicos também específicos. Os conectores de cada sistema são aqueles aos quais já foram feito referência (RJ11 e 4 pinos). A quantidade de fios é limitada a dois fios no sistema brasileiro (daí o termo Par Telefônico) e quatro fios no sistema americano. Mas mesmo no sistema americano, apenas um par é utilizado, e os demais ficam ociosos. E geralmente o par de fios do sistema americano utilizado para a transmissão do sinal é composto pelos fios verde e vermelho, ficando os outros dois fios sem utilização. Tendo em vista este conceito do Par Telefônico, podemos seguir em frente. Como já foi dito, há a necessidade de contato físico entre o dispositivo clandestino (de interceptação) e a linha telefônica. Salvo aqui, os casos de grampos por indução, os quais serão abordados mais adiante. De qualquer forma, esta conexão física do grampo com a linha telefônica pode acontecer em vários pontos da linha (entre o terminal telefônico e a operadora), a saber: (1) na caixa de distribuição do prédio (também chamado de DG), geralmente localizada na garagem ou Hall de entrada do prédio alvo; (2) nas caixas de distribuição interna do prédio (geralmente há uma ou mais delas localizadas em cada andar do prédio); (3) no interior da própria tomada telefônica (nos casos em que haja acesso dentro do apartamento ou sala alvo da interceptação); (4) no próprio aparelho telefônico (nestes casos, o terminal alvo do monitoramento é substituído por um aparelho que traz o dispositivo instalado no seu interior, igual ao original que encontra-se no ambiente); (5) no poste telefônico mais próximo ao prédio alvo (nos casos onde não exista acesso disponível nem ao prédio nem ao apartamento / sala alvo do monitoramento); (6) na rua a distâncias de até cerca de dois ou três quarteirões de distância do prédio alvo, sendo que este último tipo comporta instalações em postes, caixas externas de passagens (também chamadas de LI, localizadas nos passeios), ou mesmo nas caixas de passagens subterrâneas, geralmente acessíveis através de alçapões instalados nos passeios públicos (nestes casos a instalação dos dispositivos é um pouco mais complicada porque geralmente são caixas de passagens compostas por centenas de pares, e logo, há a necessidade de tempo extra para se identificar o exato par alvo da interceptação); (7) por último, são os casos de interceptações com autorizações judiciais, onde geralmente as interceptações são realizadas a partir de links diretos entre a Cia. Telefônica e as delegacias especializadas neste tipo de operação. Nestes casos de autorizações judiciais, geralmente as interceptações são feitas utilizando-se estes links, pois como se pode imaginar, é mais fácil para as equipes policiais solicitarem a inclusão de um novo número neste link do que promover diligências externas para realizar instalações em postes e Lis localizados nas ruas. Seja qual for o ponto da malha telefônica, escolhido para a instalação do bug (do inglês inseto: termo utilizado para designar dispositivos eletrônicos de investigações – ou espionagem, dependendo do caso – instalados de maneira dissimulada para transmissão, gravação, audição ou filmagens clandestinas), já vimos que há a necessidade do contato físico entre o bug e o par telefônico. Este entendimento é válido para qualquer tipo de dispositivo que tem por objetivo a subtração (ou duplicação) dos sinais transmitidos na linha telefônica. Ou seja, se for utilizado um simples gravador, um transmissor RF, uma escuta do tipo infinita, um decodificador de tons DTMF, dispositivos para interceptação de comunicação por faxes, um desvio da linha (extensão), e etc, sua instalação requer, obrigatoriamente, encontrar um ponto para a conexão física do dispositivo à malha telefônica. Como já sabemos, esta conexão pode se dar em qualquer ponto dos cabos telefônicos. Para tal, bastaria que um descascado fosse feito no par alvo do monitoramento, de forma a deixar o fio exposto, e neste ponto descascado do fio, conectar o dispositivo. Uma alternativa que daria menos trabalho ao instalador é identificar o par telefônico alvo que chega em uma caixa de passagem, DG ou LI. Uma vez identificado o par alvo do monitoramento nestes locais, pode-se utilizar o respectivo par de pinos (porção terminal do par telefônico – ponto de onde sai o par de fios para o apartamento ou sala) correspondente ao par telefônico, e ali instalar o bug.
TIPOS DE LIGAÇÕES / INSTALAÇÕES (CONEXÕES FÍSICAS À LINHA)
Não é nosso objetivo aqui, ensinar como se instalar um bug telefônico, mas sim trazer à luz, alguns conceitos e métodos necessários para o pleno entendimento do assunto, de maneira que o leitor possa compreender com clareza como funcionam os equipamentos para interceptação de telefonia fixa. Neste ponto, devemos ter em mente como é feita esta ligação física entre o bug e o par telefônico. E quanto ao tipo de ligação (conexão física entre o bug e a linha) existem três modos de ligações: em paralelo, em série, e por indução.
Ligações em paralelo: As ligações em paralelo são as mais comuns. Esta freqüência explica-se por três fatores. Primeiro porquê os equipamentos que comportam as ligações em paralelo são mais baratos que os demais. Segundo porquê são os equipamentos encontrados com maior freqüência em lojas especializadas. Em terceiro lugar, esta freqüência justifica-se ainda no fato deste tipo de ligação exigir uma mão de obra pouco qualificada para a instalação do bug. As características principais deste tipo de ligação refletem-se no fato de ser o tipo de ligação mais facilmente detectável durante uma varredura. Mesmo um simples multímetro pode ser suficiente para detectar ligações em paralelo. Esta facilidade de detecção é uma conseqüência direta do fato de as ligações em paralelo interferirem na tensão (voltagem) da linha telefônica. As ligações em paralelo são aquelas em que o par telefônico é seccionado, deixando exposta a malha de cobre. No exato ponto seccionado é instalado o bug junto ao par telefônico. Esta instalação pode se dar por meio de um terminal de conexão do tipo jacaré, ou através de emendas mesmo. Encaixam-se ainda no conceito de ligações em paralelo, aquelas conexões feitas nas caixas de passagem, DGs, ou Lis. Isto, considerando-se que nestes casos, a conexão é feita diretamente no par de pinos telefônicos correspondentes ao par alvo do monitoramento. Contudo, se a ligação nas caixas de passagem, DGs ou LIs forem feitas não nos pinos telefônicos, mas no par de fios antes de chegar no bloco (superfície onde ficam instalados os pinos telefônicos), a ligação pode também ser do tipo em série.
Ligações em série: As ligações em série são menos frequentes que as ligações em paralelo. E os motivos que justificam esta menor freqüência são, principalmente o fato de apenas alguns poucos equipamentos comportarem este tipo de ligação. Outros motivos são o fato de estes bugs geralmente serem mais caros que os congêneres para ligações em paralelo, e ainda o fato de este tipo de ligação exigir um pouco mais de qualificação técnica por parte de quem vai proceder à instalação do dispositivo. Este tipo de ligação geralmente interfere na corrente da corrente da linha (amperagem) e não na tensão da linha, como acontece com os grampos em paralelo. A conseqüência deste fato é um nível adicional de dificuldade para identificar sua presença quando instalados nas linhas telefônicas. Mas afinal, porquê esta dificuldade adicional em detectá-los? Pois qualquer multímetro também pode detectar variações de corrente. A resposta é alicerçada sobre dois pontos. O primeiro diz respeito ao fato de que, geralmente, equipamentos ligados em série causam apenas uma pequena baixa de corrente na linha, e não uma baixa grosseira, como nos casos de queda de tensão geralmente observadas junto àqueles dispositivos ligados em paralelo. Logo, apenas bons multímetros, com precisão VAC e VDC abaixo de 0,5% poderiam ser capazes de detectar sua presença. O segundo motivo que explica esta dificuldade adicional em detectar as ligações em série, está justamente no fato de que não é qualquer equipamento (sejam eles multímetros ou analisadores de integridades em linhas telefônicas) que possui capacidade de detecção de alterações sensíveis na corrente da linha. As ligações em série são caracterizadas pela instalação sobre apenas um único fio do par telefônico. No ponto da instalação é realizado um rompimento deste fio e o dispositivo telefônico é, então, instalado de maneira a fazer uma ponte entre as duas extremidades do cabo rompido, conforme pode-se ver na ilustração adiante:
Ligações por indução: A terceira forma de ligação é por indução. Pouco conhecida esta tecnologia recente só é passível de detecção se for empregado algum Refletor por Domínio de Tempo. Leituras de tensão e corrente na linha são inócuas para a sua detecção. Sua impossibilidade de detecção pelos métodos convencionais de leituras de tensão e corrente da linha se deve ao fato deste tipo de ligação gerar alterações muito próximas de zero durante estas leituras. Tal impossibilidade se deve ao fato de não existir um contato físico direto entre o dispositivo de indução e linha telefônica alvo do monitoramento. Veja a figura adiante:
Anel de indução, com o cabo telefônico passando pelo seu centro
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