UMA INTRODUÇÃO AO ASSUNTO DAS IMPRESSÕES DIGITAIS
– PARTE 01
(TÉCNICAS DE REVELAÇÃO)
INTRODUÇÃO
A ciência botânica
prova que as folhas de uma mesma árvore nunca são idênticas. Duas zebras também
nunca terão um padrão de listras iguais. Da mesma forma, é princípio firmado na
Datiloscopia (sistema de identificação por meio das impressões digitais) que não
existirem duas impressões papilares idênticas.
A datiloscopia é
ainda, a ciência que se propõe a identificar as pessoas fisicamente
consideradas, por meio da impressão digital ou produção física dos desenhos
formados pelas cristas papilares das extremidades digitais.
Uma impressão digital nada mais é do que um
depósito de materiais orgânicos deixado em uma superfície no instante em que
houve o contato dos dedos com a superfície de um objeto. Quanto maior a
oleosidade da pele ou o suor das mãos, mais facilmente a impressão digital
poderá ser revelada.
De modo geral, podemos definir IMPRESSÕES
DIGITAIS LATENTES como sendo aquelas impressões que foram deixadas no local de
crime. Estas impressões podem ou não ser visíveis. As visíveis podem ser
impressões contaminadas com sangue, por exemplo. Mas a maior parte das
impressões latentes é mesmo invisível. Ao tratamento para torná-las visíveis é
dado o nome de REVELAÇÃO DE LATENTES.
TÉCNICAS DE REVELAÇÃO
O objetivo de revelar uma impressão latente é
visualizar o desenho das CRISTAS PAPILARES, que são as linhas do desenho das
impressões digitais. Os detalhes dos desenhos destas linhas é que irão permitir
a classificação da impressão e um posterior confronto da impressão latente com
as impressões digitais dos suspeitos.
Antes de se proceder à revelação de uma
impressão latente, é necessário selecionar dentre os vários processos físicos e
químicos com os quais as secreções da pele, presentes naquela latente, irão
reagir. A seleção das ferramentas corretas para esta revelação é um dos
principais componentes do trabalho de um técnico em impressões digitais. Mas
para esta correta seleção é necessário ter algum conhecimento da constituição
das impressões digitais.
Fatores como a idade, exposição ambiente,
tipo de superfície sobre a qual encontra-se a latente apresentam um profundo
impacto sobre a escolha das ferramentas corretas. É importante ter em mente que
água e álcoois são os primeiros componentes que um latente perde. É preciso
levar em consideração, ainda o fato de que certas superfícies podem absorver ou
diluir os componente oleosos.
Em alguns casos, pode se fazer necessário o
emprego de um ou mais métodos de revelação, em seqüência. Contudo, o técnico em
impressões digitais deve ter em mente que certos métodos podem ser destrutivos.
Por causa disto, nos casos mais complexos envolvendo a revelação de impressões
latentes, é necessário que haja uma ampla compreensão por parte do técnico sobre
a seqüência aceita para o uso de produtos reveladores destas impressões.
Veja adiante algumas das principais técnicas
para emprego em atividades de revelação de impressões digitais e latentes.
Técnica do pincel e pó:
A técnica de revelação com pincel e pó é a
mais comumente usada na revelação de impressões latentes, e será suficiente para
atender à maior parte das demandas apresentadas em um local de crime. E isto
acontece porque os pós costumam ser muito úteis em impressões novas (com menos
de 48 horas), uma vez que nestes casos geralmente ainda há depósitos
consideráveis de água e gorduras nestas impressões. Deve-se sempre usar uma cor
de pó que contraste com a cor da superfície trabalhada e também um pincel macio
o suficiente para não alterar o desenho das cristas papilares no instante da
revelação.
Como já sabemos, as impressões digitais das
extremidades dos dedos são gordurosas, e este fato lhes confere certa aderência.
Os pós empregados nos processos de revelação, aderem a estas impressões
gordurosas. Contudo, é imperioso o emprego de materiais de reconhecida qualidade
(pós e pincéis), sob pena de se obter uma revelação de baixa qualidade, o que
poderia comprometer um posterior trabalho de comparação.
Esta técnica implica, entre outras coisas, em
identificar a cor ideal do pó a ser usado (que é especialmente fabricado para
esta finalidade), e fazendo uso de um pincel macio (também concebido para esta
atividade específica) aplicar o pó sobre a superfície onde potencialmente pode
haver impressões latentes.
A aplicação do pincel sobre o pó deverá
acompanhar o contorno do desenho das cristas papilares, evitando assim que as
mesmas sejam danificadas durante sua aplicação. Ao fim da aplicação, havendo
excesso de pó sobre esta latente - o que dificultará a visualização do desenho
das cristas papilares - um pincel extra macio (de penas de marabou, por exemplo)
Para um investigador comum, dominar a técnica
do pincel e pó já será suficiente para se obter resultados na maior parte dos
casos em que for confrontado. Superfícies lisas permitem um trabalho mais
simplificado e com melhores resultados para a revelação das latentes. Entre
estas superfícies destacamos, vidro, metal, madeira tratada ou envernizada,
plásticos e peças de cerâmicas entre outras.
Certas superfícies porosas, também são muito
fáceis de serem trabalhadas. E assim como as superfícies lisas, a técnica do
pincel e pó serão suficientes quando se tratarem de impressões novas. Entre
estas superfícies destacamos papel, cartolina, papelão e madeira sem acabamento.
Algumas variações das técnicas de pincel e pó
consistem nos pós fluorescentes, utilizados com auxilio de uma fonte de luz azul
forense, muito útil para revelação de impressões latentes em superfícies multi
coloridas. Destaque também para os pincéis e pós magnéticos, que consistem em um
conjunto de ferramentas (pós e pincéis) em que a cerda do pincel é constituída
por um pó especial (composto por limalha de ferro e grafite) que é atraído por
uma base imantada do aplicador (também chamado de pincel magnético).
Pincel magnético em uso
Iodo:
Vapores de iodo reagem
com óleos e depósitos de gorduras produzindo, temporariamente, um produto de
reação com um aspecto amarelo amarronzado. Especialmente útil no caso de
impressões recentes sobre superfícies metálicas e porosas. Outras superfícies
também podem comportar a revelação com iodo.
Kit para vaporização com Iodo.
O iodo deve ser empregado antes de qualquer
outra técnica que se queira utilizar. O destaque com as revelações através do
vapor de iodo, consiste no fato de que esta revelação é temporária. Logo, as
latentes reveladas com estas substâncias devem ser fotografadas imediatamente,
tendo em vista que a reação dura pouco tempo (geralmente cerca de 1 minuto, em
superfícies porosas como o papel e cartolina).
Logo, a aplicação de vapor de iodo pode ser
muito útil para revelar impressões digitais sem que se deixe vestígio desta
atividade sobre a superfície analisada. Basta que o investigador tenha alguns
breves minutinhos junto á superfície alvo da revelação e ele poderá aplicar o
vapor de iodo, fotografar a reação, e aguardar o desaparecimento da reação. Toda
esta seqüência de fatos provavelmente consumirá menos do que cinco breves
minutos (dependendo das características da superfície e da impressão latente
trabalhada).
DFO, Ninidrina e Nitrato de Prata:
Ninidrina DFO Nitrato
de Prata
O DFO (1,8 diazofluoreno-9-um) é uma
substância com alta capacidade de revelação (mais do que duas vezes comparado à
Ninidrina). Muito aplicada em superfícies porosas (como papel e cartolina), sua
reação pode ser acelerada através de aplicação de calor (requer o emprego de
câmara de vaporização). Se for emprega em processos que incluam a Ninidrina, o
DFO deve ser utilizado antes desta. Muito útil também para revelar manchas de
sangue, sua aplicação demanda a utilização de uma fonte de luz do tipo azul
forense.
A Ninidrina reage com aminoácidos para
produzir um produto de reação com coloração roxa. Indicado para superfícies
porosas, o tempo de revelação médio é de 10 dias, podendo ser acelerado com
aplicação de calor e umidade. Se utilizada em conjunto com outras substâncias
químicas, deve ser empregada depois do iodo e antes do Nitrato de Prata. Muito
utilizada pelas polícias técnico científicas, seu resultado é inócuo em artigos
que tiverem sido expostos à água.
O Nitrato de Prata reage com cloretos de
secreções da pele, com um resultado da revelação de cor acinzentada quando
exposto à luz. Após a revelação a impressão deve ser fotografa imediatamente,
pois muito freqüentemente a reação acaba preenchendo a região vazia entre as
cristas papilares, e assim forma-se um borrão. Indicada para superfícies
porosas, plásticos e madeira não envernizada. Se utilizada com outros reagentes
deve ser empregada após aplicação do iodo e da Ninidrina. Seu resultado também é
inócuo em artigos que tiverem sido expostos à água.
Cianoacrilato:
Esta é uma das
substâncias que compõem as super colas (super bonder, three bonder e etc). O
vapor de Cianoacrilato reage com águas e outros possíveis componentes das
impressões digitais formando um depósito duro e esbranquiçado sobre as
impressões reveladas. Este depósito é rígido, e por este motivo protege as
impressões reveladas.
Muito indicado para superfícies como isopor,
sacolas plásticas e interior de veículos. O pó deve ser aplicado sobre as
impressões reveladas ou então tratadas com alguma espécie de corante para
realçá-la.
Requer a aplicação de calor (câmara de
vaporização). No caso de revelação de impressões veículos, o próprio veículo
pode funcionar como uma câmara de vaporização, bastando apenas deixá-lo exposto
sob o sol intenso com as janelas e portas fechadas. Todo o interior do veículo
(ou da câmara de vaporização) receberá o depósito rígido e esbranquiçado ao fim
do processo de revelação.
Envelope de Cianoacrilato para revelação de latentes no
Outras técnicas:
Outras técnicas permitem ao perito revelar
impressões mais antigas e cujos componentes orgânicos já não mais reagiriam com
o pó ou os químicos mais comuns. Estas substâncias irão reagir com outros
depósitos de materiais orgânicos que estarão presentes mesmo nas impressões
digitais mais antigas. De qualquer maneira tais procedimentos requerem uma boa
dose de experiência em atividades de revelação de impressões digitais.
Os recursos tecnológicos atuais permitem
revelação de impressões digitais inclusive em superfícies adesivas (EZFLO e
LPDE), como fitas isolantes ou durex, e superfícies úmidas (reagente de pequenas
partículas), como a lataria molhada de um carro.
Destaque também para o Revelador Físico, para
uso na revelação de impressões sobre superfícies porosas, que costuma apresentar
bons resultados mesmo em superfícies que tenham sido expostas à água, ao
contrário da Ninidrina e do Nitrato de Prata que são inócuos nestes casos. Ainda
nestes casos, lembre-se de que algumas destas ferramentas de laboratórios podem
se fazer necessário o emprego de câmaras de vaporização (como no caso do
Cianoacrilato e da Ninidrina), fontes de luzes especiais (DFO) e aplicadores
específicos (pós magnéticos).
Revelador Físico – Soluções A e B
Relatos de impressões latentes reveladas com
sucesso a partir de peças resgatadas do Titatic, ou sobre a pele humana, ou
ainda impressões com mais de 50 anos também nos chegam com frequência. Contudo,
ainda não tivemos acesso seguro à descrição das técnicas e materiais utilizados
para tal.
Resumo dos
principais materiais a serem aplicados X tipo de superfícies:
SUPERFÍCIE
|
MÉTODO
|
01
|
Lisa,
não porosa
|
Pós,
iodo, Cianoacrilato reagente de pequenas partículas
|
02
|
Irregular, não porosa
|
Reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato
|
03
|
Papel
e papelão
|
Iodo,
Ninidrina, DFO, Nitrato de Prata, pós, Revelador Físico
|
04
|
Embalagens plásticas
|
Iodo,
reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato, pós
|
05
|
PVC,
borracha e couro
|
Iodo,
reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato, pós
|
06
|
Metais
não tratados
|
Reagente de pequenas partículas, Cianoacrilato,
|
07
|
Superfícies s/ acabamento
|
Ninidrina, Nitrato de Prata, pós, Revelador Físico
|
08
|
Superfícies enceradas
|
Pós
(não magnéticos), Cianoacrilato
|
09
|
Superfícies adesivas
|
Substâncias a base de EZFLO e
LPDE
|
Descrições das
superfícies citadas:
1)
Lisa, não
porosa:
vidros, plásticos rígidos, superfícies envernizadas ou pintadas.
2)
Irregular,
não porosa:
superfícies irregulares como moldagens de plásticos granulados.
3)
Papel e
papelão:
papel, cartolina, papelão, gesso não encerados ou plastificados.
4)
Embalagens
plásticas:plietileno,
acetato de celulose, papel laminado.
5)
PVC,
borracha e couro: couro sintético e
películas adesivas.
6)
Metais não
tratados:
superfícies metálicas brutas, não laqueadas ou pintadas.
7)
Superfícies
s/ acabamento: superfícies de
madeiras sem acabamento, não pintadas ou tratadas.
8)
Superfícies
enceradas:
artigos feitos de cera, papel, papelão e madeiras enceradas.
9)
Superfícies
adesivas:
superfícies adesivas que não se dissolvem em água.