UMA INTRODUÇÃO AO ASSUNTO DAS IMPRESSÕES DIGITAIS – PARTE 02 (CLASSIFICAÇÃO DATILOSCÓPICA)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSTULADOS DA DATILOSCOPIA

Perenidade:

Já no 6º mês de vida intra-uterina as impressões digitais de um feto já se fazem presentes, conservando-se durante toda a existência do indivíduo, até a putrefação cadavérica.

Imutabilidade:

Os desenhos digitais nunca se alteram. Podem, contudo, ocorrer danificações temporárias, tais como queimaduras superficiais, ou desgaste em função da profissão exercida pelo indivíduo. De qualquer forma, os desenhos das cristas papilares tendem a voltar à forma inicial, logo que houver a recuperação.

Variabilidade:

Não existem duas impressões digitais iguais, existindo variações de pessoa para pessoa e de dedo para dedo em uma mesma pessoa.

Impressões latentes ou invisíveis:

Estas são as impressões produzidas pela secreção dos poros sudoríparos que umedecendo as cristas papilares, provocam as impressões invisíveis no ato do toque da superfície dos dedos com uma outra superfície qualquer.  

Para serem analisadas, as impressões latentes precisam ser submetidas a processos de revelação com reativos apropriados. São encontradas em locais de crimes; em superfícies lisas ou relativamente lisas, como vidros, metais polidos, porcelanas, armas e papéis.

 

LEVANTAMENTO E COMPARAÇÃO DE IMPRESSÕES DIGITAIS

 

Uma vez que as impressões latentes forem localizadas na cena do crime, como já sabemos, elas deverão, na seqüência, serem submetidas aos processos de revelação, que como já sabemos consiste em tornar visível esta impressão. Como já sabemos também, para este processo de torná-la visível (revelação), podemos empregar inúmeras técnicas como pincel e pós, ou qualquer outro processo que se utilize das já conhecidas reações químicas para esta finalidade (Ninidrina, Nitrato de Prata, DFO e etc).

 

Os processos de levantamento são especialmente úteis nos casos onde o objeto que abriga a impressão não pode ser levado para o laboratório para ser submetido à pesquisa datiloscópica (impressões em paredes, portas, janelas e etc.).

 

Uma vez que as impressões forem, enfim reveladas, o próximo passo é levantá-las. O levantamento de impressões digitais consiste em armazenar, senão a impressão propriamente dita, pelo menos sua imagem, em tamanho real. E o objetivo deste levantamento é poder transportar a impressão para submetê-la a um processo de comparação.

 

Este processo de levantamento consiste basicamente em duas técnicas básicas, a saber: (1) uso de levantadores, e (2) fotografia, em escala 1:1 (tamanho real).

 

O emprego de levantadores é normalmente utilizado para uso com as impressões reveladas através da técnica de pós e pincéis, e consistem de uma fita adesiva especial que tem sua superfície aderente friccionada contra a superfície onde encontra-se a impressão revelada. Neste caso haverá a transferência do desenho das cristas papilares (evidenciado pelo pó aplicado) para a fita adesiva. Uma vez que a impressão for transferida para a fita, resta colar esta mesma fita em um suporte (geralmente cartões de borracha ou cartolina especial) que possua uma cor de fundo que contrates com a cor do pó utilizada (se o pó utilizado for branco, o suporte deverá ser preto, e vice versa).

 

Existem algumas outras ferramentas especiais para realizar este levantamento, tais como os Levantadores Articulados e os levantadores de borracha líquida. Levantadores de borracha líquida são empregados principalmente com as latentes reveladas com Cianoacrilato, que formam, nestes casos, uma superfície com relevos melhor definidos. Trata-se de uma borracha líquida de alta sensibilidade que, durante o processo de modelagem, é capaz de definir mesmo as superfícies mais discretas, como por exemplo o relevo da nota de um dólar.

De qualquer forma, uma vez que a impressão for revelada e levantada, devemos proceder ao processo de comparações, que é o objetivo final de todo o trabalho prévio. Esta comparação é que irá dizer se uma latente encontrada no local de crime pertence ou não a um suspeito.

Este trabalho de comparação (também chamado de confronto) consiste em identificar as peculiaridades (ou pontos característicos) de cada impressão latente colhida com as peculiaridades (ou pontos característicos) das impressões dos suspeitos. Uma vez que forem encontrados 12 (doze) pontos característicos iguais numa e noutra impressão, pode-se afirmar com segurança que trata-se do mesmo indivíduo.

Tecnicamente, é reconhecido como sendo impressões de um mesmo indivíduo, sempre que um mínimo 12 pontos característicos coincidentes forem encontrados ao se confrontar as impressões latentes colhidas com as impressões dos suspeitos. Este é um dos pontos mais importantes da datiloscopia: bastam 12 pontos característicos coincidentes entre duas impressões, para identificar se trata-se ou não do mesmo indivíduo.

Em 1918, Edmondi Locardi, escreveu os doze pontos característicos entre duas impressões papilares, onde seria suficiente para uma identificação positiva, esse número passa a ser um referencial em muitos países.

O número de pontos característicos em uma digital varia de 12 a 40 pontos característicos, sendo 40 o valor máximo.

 

BANCO DE DADOS

Considerando que as latentes já foram reveladas e levantadas, resta-nos compará-las. Mas compará-las com quem? É justamente aí que entra o conceito de banco de dados de fichas datilares (uma única impressão) ou decadatilares (dez impressões, dos dez dedos).

Os arquivos civis e criminais contam com fichas decadatilares, ou seja, das impressões dos dez dedos. Geralmente estes arquivos consistem em fichas de papel que ficam armazenas em um grande galpão cheio de arquivos. E como não poderia deixar de ser, contam com fichas de milhões de indivíduos.

Só o Instituto de Identificação do Estado de São Paulo conta com um acervo de 40 milhões de fichas, e diariamente somam-se outras cercas de outras 15 mil novas fichas, que é o número médio de cédulas de identidades expedidas diariamente. Logo, como é possível deduzir, é um trabalho humanamente impossível para um perito paulista comparar uma única latente encontrada em um local de crime com cerca de 400 milhões de impressões digitais arquivadas (40 milhões de fichas X 10 dedos).

Uma alternativa nestes casos é investigar e enumerar os suspeitos. Uma vez que tivermos uma lista de suspeitos, aí sim, é que poderemos proceder ao confronte entre as impressões latentes colhidas no local e as impressões dos suspeitos.

Uma alternativa séria e profissional ao problema provocado pelo enorme volume de fichas e a necessidade de submetê-las às comparações é a instalação de um sistema AFIS, do inglês Automatic Figerprint Identification Sistem (Sistema Automático de Identificação de Impressões Digitais).

Sistemas AFIS são estações compostas de hardware e software para armazenamento e comparação de impressões digitais. Existem várias configurações possíveis para este sistema, o que implica em diferentes potencialidades técnicas no que diz respeito à capacidade máxima de armazenamento e velocidade de comparação entre uma latente qualquer e todo o banco de dados. Alguns estados brasileiros já encontram-se em fase de implantação do sistema AFIS, cuja etapa atual está no processo de digitalização das imagens das impressões previamente colhidas durante o processo de identificação civil (emissão da carteira de identidade). Depois que estas imagens forem digitalizadas, o AFIS poderá efetivamente ser implantado no combate à criminalidade, como uma importantíssima ferramenta de auxílio ao trabalho das polícias técnico científicas.

Em função das várias configurações possíveis, e do tamanho de cada banco de dados, cada sistema levará um tempo diferente para realizar a comparação de uma latente com todo o banco de dados. De qualquer forma, como referência, poderemos dizer que um sistema destes, com uma configuração média, poderá realizar a comparação de uma latente com todo o banco de dados, em prazos médios de cerca de uma semana.

Depois deste prazo, será necessário o trabalho humano (de um perito) para os confrontos finais entre as impressões mais parecidas selecionadas pelo sistema AFIS dentro do universo de impressões armazenadas (provavelmente algumas centenas), contra a impressão latente colhida no local de crime.

 

Ou seja, o sistema AFIS apenas diminui o tamanho do universo de impressões a serem comparadas. Como se pode ver, o sistema não fornece um resultado único e definitivo, mas sim uma seleção de impressões (imagens) que mais se aproximam daquela latente que foi submetida ao confronto. De qualquer forma, é um importante avanço para a comparação de impressões, visto que, atualmente, não é praxe realizar confrontos entre uma latente e o banco de dados sob domínio do estado.

 

CLASSIFICAÇÃO DATILOSCÓPICA

Datilograma Digital:

É formado pelo conjunto de cristas e sulcos, os quais projetam desenhos ou arabescos, localizados na primeira falange dos dedos.

Componentes:

a) Cristas papilares ou linhas de fricção: são as linhas de formação linear e saliente.

b) Sulcos interpapilares: são os espaços que separam as cristas em si.

Sistemas de linhas:

É o conjunto de linhas papilares que formam o agrupamento (desenho) das linhas que vêm a constituir uma impressão digital.

O dactilograma apresenta três sistemas de linhas, a saber:

  • Sistema nuclear: formado pelas linhas centrais de uma impressão.
  • Sistema marginal: sistema de linhas situado na parte superior da impressão.
  • Sistema basilar: conjunto de linhas situado na parte inferior (limitando-se com a prega interfalangeana do dedo).

Todas as impressões digitais são classificadas, pelo datilograma, de acordo com o tipo genérico da sua forma, que podem ser quatro diferentes, a saber:

1)     Arco

2)     Presilha Interna

3)     Presilha Externa, e

4)     Verticilo.

 

TIPOS FUNDAMENTAIS DE IMPRESSÕES

Arco:

É o datilograma, geralmente adéltico, formado por linhas que atravessam o campo digital, apresentando em sua trajetória formas mais ou menos paralelas e abauladas ou alterações características.

 

 

 

 

 

 

 

Presilha Interna:

É o datilograma com um delta à direita do observador, apresentando linhas que, partindo da esquerda, curvam-se e voltam ou tendem a voltar ao lado de origem, formando laçadas.

 

 

 

 

 

 

Presilha Externa:

É o datilograma com um delta à esquerda do observador, apresentando linhas que, partnido da direita, curvam-se e voltam ou tendem a voltar ao lado de origem, formando laçadas.

 

 

 

 

 

 

Verticilo:

É o datilograma com um delta à direita outro à esquerda do observador, tendo pelo menos uma linha livre e curva à frente de cada delta.

 

 

 

 

 

 

A Importância do Delta:

Delta é o ponto de encontro de três sistemas de linhas: basilar, nuclear e marginal.

É pela presença ou ausência do delta em uma impressão digital que são medidos os quatro tipos fundamentais de desenhos: Arco, Presilha Interna, Presilha Externa ou Verticilo.

A ausência de delta classifica a impressão como Arco que as linhas nucleares atravessam o campo da impressão de forma abaulada. É uma forma muito rara e difícil de aparecer nas pessoas.

A presença de um delta à direita do observador define a impressão como Presilha Interna. Geralmente só tem na mão esquerda. 

A presença de um delta à esquerda do observador caracteriza a impressão como Presilha Externa. Geralmente é comum na mão direita.

A presença de dois deltas, um à direita e outro à esquerda determina a impressão do Verticilo. Apresenta no centro do núcleo um ou mais círculos fechados.

No que se refere ao sexo, estudos revelam que o sexo feminino tem freqüência ligeiramente maior de arcos e presilhas e menor de verticilos, enquanto que nos homens ocorre o contrário, tem freqüência maior de verticilos e menor de presilhas e arcos.

No que diz respeito à raça, os orientais apresentam uma freqüência maior de verticilos que os europeus e americanos.