Criação de Salas Seguras - Uma introdução ao assunto
De maneira geral, toda organização precisa ser protegida. Óbvio! Algumas, contudo, demandam uma proteção mais específica e abrangente, que irá depender das suas características, da sua posição no mercado e o cenário em que está inserida, entre outras variáveis. Consequentemente, quanto mais críticas forem estas variáveis, maior será a necessidade de se adequar esta proteção.
Decorre daí, que um tema tem despertado o interesse dos profissionais que atuam nos setores de inteligência e contra inteligência competitiva de algumas corporações. O tema em questão é aquilo que convencionou-se chamar de “Sala Segura”. Na realidade, estas salas seguras seriam ambientes sensíveis dentro das corporações, devidamente equipados e preparados para tornarem-se totalmente a prova de espionagem. Dentro deste conceito, tudo que fosse discutido dentro de uma Sala Segura seria, a princípio, a prova de vazamentos (partindo do pré suposto que nenhum dos interlocutores teria interesse em “vazar” o que foi discutido ali).
Como pode-se perceber, este conceito de Sala Segura é interessante e justifica o interesse do pessoal dos setores de Segurança Corporativa. Contudo, cabem algumas perguntas: salas seguras são 100% eficientes? Como funcionam? Qual é o valor do investimento?
Para começar a responder a estas perguntas, é importante ter em mente que nenhuma prática de contra inteligência pode ser assumida com sendo 100% segura. O bom profissional de contra inteligência (seja ele do setor corporativo ou governamental) sabe que o comodismo da certeza da segurança plena é apenas uma porta de entrada para os dos agressores (i.e. espiões) mais criativos e oportunistas.
Logo, é possível criar ambientes bastantes seguros, até um ponto máximo que a tecnologia atualmente permite. Mas, afirmar que é possível criar ambientes 100% seguro contra efeitos de espionagem, isso não seria sensato. Até porque, como o leitor mais atento irá perceber, a tecnologia a serviço dos agressores encontra-se um passo à frente do estágio tecnológico que estão as ferramentas a serviço das equipes de contra inteligência.
O processo de preparação das salas seguras pode ser dividido em três etapas. A primeira refere-se à adoção de práticas de segurança elementares, porém rígidas e, acima de tudo, eficientes, como é o caso das boas rotinas de Controle de Acesso às dependências da empresa e o emprego de Sistemas de CFTV de destacada qualidade. Não adianta investir na criação de uma sala segura se toda a base das políticas de Segurança Corporativas for frágil. A sala segura deve ser entendida como o topo de uma pirâmide, onde as paredes que se elevam do chão são as boas práticas da segurança patrimonial e corporativa.
Estas boas práticas de segurança tem início nas atividades mais rotineiras da segurança patrimonial e culminam com as boas práticas dos setores de segurança corporativa. Inclui-se entre estas últimas a realização de varreduras eletrônicas frequentes nas dependências sensíveis da empresa. Sem serviços de segurança patrimonial e corporativa eficientes, a sala segura, por melhor que seja, torna-se pouco eficaz.
A segunda etapa da preparação de salas seguras diz respeito à uma série de pequenas intervenções físicas (pequenas reformas e adaptações estruturais), tais como revestimento de paredes e tetos com material especial de proteção contra vazamentos acústicos e construção de uma Gaiola de Faraday. Enquanto que o revestimento acústico irá atuar contra algumas tecnologias de escutas remotas (estetoscópios eletrônicos, por exemplo) ou simplesmente impedir que discussões sejam ouvidas através das paredes (sem nenhum equipamento), a Gaiola de Faraday (de maneira simplificada, um revestimento metálico sobre paredes, pisos e teto) irá atuar contra o vazamento de sinais de RF (caso algum agressor adentre o ambiente portanto uma escuta, uma câmera transmissora ou um celular espião, por exemplo).
Por fim, a terceira etapa da preparação de uma Sala Segura incorpora justamente a adoção de tecnologias específicas e especializadas na proteção de ambientes sensíveis, tais como emissores de ruídos acústicos (já explicados em artigo anterior, que atua contra as tecnologias de escutas remotas: microfones direcionais e parabólicos, escutas a laser, estetoscópios eletrônicos e etc.), desestabilizadores de microfones (que anulam a operação dos microfones de eletretos – presentes nas escutas e câmeras de maneira geral), bloqueadores de sinais RF (impedem que transmissores RF transmitam sinais de rádio frequência – escutas, câmeras transmissores, celulares espiões e etc.), sistemas de proteção telefônica, detectores de metais (dissimulados ou ostensivos) para controle de acesso às dependências da Sala Segura, entre outras ferramentas.
É claro que algumas das tecnologias citadas neste artigo irão se sobrepõem. E a sobreposição de procedimentos e tecnologias é sempre desejável quando se trata de proteção. Pois se uma tecnologia ou prática falhar, haverá ainda uma outra tecnologia ou prática para fazer efeito. Contudo, pode ser que os recursos disponíveis para investir na preparação da Sala Segura sejam limitados, e neste caso, a sobreposição talvez não seja uma hipótese viável.
O custo de preparação de salas seguras vai depender muito do resultado que se deseja alcançar. Por exemplo, uma Sala Segura mais simples (considerando-se um ambiente de 40m²) pode ser equipada com um revestimento acústico de boa qualidade (cerca de uns R$ 10 mil reais), um Gerador de Sinal Branco portátil (cerca de uns R$ 2 mil reais) e uma cortina grossa cobrindo as janelas de vidros (atua contra escutas a laser). Com isso, o custo final de preparação deste ambiente não deverá ultrapassar a casa dos R$ 15 mil reais.
Por outro lado, se o organização resolver criar uma ambiente adotando todas as tecnologias de proteção possíveis (considerando-se o mesmo ambiente de 40m²), recomendo que a previsão inicial de recursos não seja inferior a uns R$ 200 mil ou mais, caso deseje-se ainda equipar o setor de contra inteligência com o que há de melhor em termos de equipamentos de varreduras eletrônicas, ambientais e telefônicas (só este último campo demandará cerca de uns R$ 600 mil em investimentos).
Ainda que alguma organização sinceramente preocupada em investir na segurança de informações sensíveis acabe dedicando uma verba de R$ 1 milhão em investimentos, talvez um profissional mais perspicaz dos setores de segurança da organização possa vir a perguntar: “como serão detectadas e anuladas as ameaças representadas pelo uso de micro câmeras com DVR embutido?”. A resposta mais sincera não poderá ser outra, além de: “mesmo com tanto recurso investido, nada melhor que o olho humano treinado para detectar a presença deste tipo de dispositivo, pois as tecnologias atualmente disponíveis são imprecisas na sua detecção e inócuas na anulação da sua operação”.
E isso nos remete a um ponto anterior deste mesmo artigo: pouco efeito terá uma sala segura se a base da segurança patrimonial e corporativa não forem eficientes. Como se vê, a questão é complexa, e o melhor a se fazer antes de criar um ambiente seguro dentro da sua organização é consultar um especialista no assunto para que este possa identificar as necessidades e vulnerabilidades da organização. Só depois que isso for feito é que o especialista poderá propor um pacote de soluções que otimize os recursos a serem investidos com a finalidade de, em última instância, criar uma Sala Segura que seja a mais eficiente possível sem que valiosos recursos sejam desperdiçados.
Angelo Henrique Simões
Diretor Executivo
Núcleo Soluções Tecnológicas Ltda.
www.oinformante.com